RODA DA CIÊNCIA


1- Divulgação científica e a Casa da Ciência

Segundo Miller (1983), é necessário que haja a alfabetização científica nas sociedades modernas, já que os indivíduos, ao adquirirem as habilidades e conhecimentos técnicos e científicos, passarão a se comportar mais efetivamente como cidadãos e consumidores. O conceito de alfabetização científica é definido pelo autor como: 1) o conhecimento de termos e conceitos científicos essenciais; 2) uma compreensão sobre as normas e métodos da ciência; e 3) o entendimento do impacto da tecnologia e da ciência sobre a sociedade. Neste sentido, a Casa da Ciência, desenvolve atividades de ensino de ciências com objetivo de aproximar a pesquisa científica de alunos e professores do ensino fundamental e médio, especialmente de escolas públicas. Sendo assim, segue uma linha educacional com apoio aos professores e alunos de ensino médio e fundamental, especialmente em temas atuais, os quais o livro didático não alcança ou não aprofunda. Além de Ciências e Biologia, outras disciplinas como Português, História e Geografia podem utilizá-lo.

A Casa da Ciência foi criada em 2000, parte do programa de difusão do Centro de Terapia Celular (CTC), integrante dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID), financiados pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Os CEPIDs possuem a missão de desenvolver pesquisas multidisciplinares na fronteira do conhecimento, transferir conhecimento para os setores público e privado e promover atividades educacionais. Localizada no Hemocentro de Ribeirão Preto, no campus da Universidade de São Paulo (USP), a Casa da Ciência é coordenada pela Profa. Dra. Marisa Ramos Barbieri e também pelos Prof. Dr. Dimas Tadeu Covas, diretor presidente do Hemocentro de Ribeirão Preto e Prof. Dr. Marco Antonio Zago, hoje presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Além da sua sede administrativa, situada no Hemocentro, a Casa da Ciência agrega o PIPOC (Ponto de Informação, Pesquisa e Organização em Ciências), e o MuLEC (Museu e Laboratório de Ensino de Ciências), com endereço no campus universitário. Em 2005, iniciou-se o programa de iniciação científica “Adote um Cientista” que consiste na interação entre pós-graduandos da USP (orientadores) e alunos de ensino médio e fundamental de Ribeirão Preto e região. Este programa já contou com mais de 450 participantes. As atividades oferecidas aos alunos são diversas, por exemplo, palestras, práticas, observações, coletas e oficinas de redação (ZAUITH, 2008).

A Casa da Ciência se compromete com a divulgação e disseminação de dados e resultados. Nesse sentido, o “Jornal das Ciências” bem como os “Folhetins” foram criados como materiais de atualização e divulgação de ciências, produzidos com base nas atividades desenvolvidas entre alunos, professores e alunos de pós-graduação. O aluno, segundo as concepções da Casa da Ciência, pode ser um aliado do professor em sala de aula, tornando-se um incentivador e uma ligação com o restante da sala. A equipe da Casa da Ciência possui o hábito do registro, principalmente na interação com os alunos em palestras e atividades. Segundo Barbieri (2001), “o registro é imprescindível para avaliar a aula e a aprendizagem dos alunos, construindo a memória escrita, a avaliação”.

2- Casa da Ciência: formas de divulgação científica

A Casa da Ciência possui basicamente três meios de divulgação de suas atividades, que são: Jornal das Ciências, Folhetins e site na internet. O Jornal das Ciências tem como objetivo apoiar o professor em sala de aula, especialmente em temas atuais, os quais o livro didático não alcança ou não aprofunda, levando aos alunos a oportunidade de ter contato com a as implicações cotidianas da pesquisa científica da USP. Nesta mesma linha de atuação nas escolas os Folhetins funcionam como uma atualização rápida e eficiente sobre temas mais específicos também advindos de linhas de pesquisa de laboratórios da USP. Com o site Casa da Ciência (http://www.hemocentro.fmrp.usp.br/projeto/casadaciencia.htm), inicia-se uma comunicação externa dos resultados do projeto. A expectativa é que o conteúdo do site leve à participação de professores e alunos — conhecidos e novos—, que se tornam produtores e autores do material do site. A equipe, juntamente com pesquisadores, professores interessados e colaboradores, está trabalhando para compor o corpo editorial desta ousada iniciativa do site como meio de divulgação e construção da memória de um projeto de formação permanente de professores.

3- Jornalismo multimídia: novas formas de divulgação científica

Os jornais on-line nasceram junto com a internet. Três fases distintas no processo de desenvolvimento das publicações para a web são identificadas: (1) no início eram disponibilizadas algumas poucas notícias; (2) depois foram disponibilizadas as versões integrais dos jornais; (3) logo depois, as edições antigas dos jornais impressos. O ano de 1997 foi marcado pela explosão do jornalismo digital, que foi impulsionado pelo surgimento das edições digitais dos grandes jornais mundiais e intensificação da tendência de especialização de portais e provedores na divulgação de notícias (ADGHIRNI, 2002). Segundo Héris Arnt (2002), os jornais fundamentalmente digitais desenvolvem características próprias através do potencial do novo meio. A utilização da multimídia (áudio, vídeos, animações e outros elementos), no jornalismo, revela as características da nova mídia de comunicação e potencializa o seu uso como meio de informação.

A comunicação mediada por computadores faz parte de uma transformação tecnológica de dimensões históricas que integra vários modos de comunicação em uma rede interativa, que pela primeira vez na história, agrega no mesmo sistema as modalidades escrita, oral e audiovisual da comunicação humana (CASTELLS, 1999). O jornalismo digital surge para suprir um novo meio de comunicação: a internet. O avanço da informática entre os anos de 1960 e 1985 permitiu o aumento da capacidade de armazenamento de informação, mas foi apenas entre 1990 e 2000 que o computador assumiu a sua função como mídia, ou seja, como “instrumento de mediação dos processos comunicacionais” (ARNT, 2002). Apesar disso, as matérias nos grandes portais de notícias são, na maioria das vezes, adaptações de outros veículos, por exemplo, jornal impresso, para a linguagem da web (FERRARI, 2003). Segundo Arnt (2002), não se configura ainda na internet uma nova linguagem jornalística, porque ela exigiria um novo profissional polivalente que dominasse o escrito, o audiovisual e a edição/diagramação, e atualmente não é isso que pode ser observado no jornalismo on-line.

4- Justificativa e objetivos

A atividade de cultura e extensão dos conhecimentos produzidos por pesquisas científicas em instituições públicas não é só obrigatória, como essencial para um convívio onde ocorram respeito e admiração mútuos entre cidadãos universitários e não-universitários. O estereótipo de cientista louco dentro de um laboratório cheio de poções mágicas deve ser superado, pois as conseqüências são muito prejudiciais para ambos os lados. O aluno de ensino médio e fundamental não consegue associar o aprendizado com o cotidiano, perdendo assim o prazer de aprender. O pesquisador não consegue contextualizar seus dados obtidos à realidade, perdendo a motivação para pesquisar.

A Casa da Ciência, por meio do programa Adote um Cientista, forma um importante elo de interação entre pós-graduandos e alunos de ensino médio e fundamental. Por meio de aulas semanais os alunos podem visitar laboratórios e ter aulas sobre temas básicos, porém atualizados, com quem produz o conhecimento. Os métodos de divulgação científica desenvolvidos pela Casa da Ciência são louváveis e já funcionam há certo tempo. Entretanto, no campo das multimídias, assim como a maioria dos meios difusores de informação, a Casa da Ciência carece de novas propostas, como vídeos, jogos eletrônicos educativos, chats para conversa com pesquisadores, infográficos interativos etc.

Sendo assim, o objetivo deste projeto é criar um programa de perguntas e respostas, intitulado Roda da Ciência. Nesse, os alunos de ensino médio e fundamental, participantes da Casa da Ciência, poderão interagir com professores universitários, pós-graduandos, músicos, artistas plásticos e cênicos. Esse programa será divulgado nas páginas da Casa da Ciência e Hemocentro, ampliando o dinamismo e entretenimento destes sites.


Referências bibliográficas

ADGHIRNI, Zélia Leal. Jornalismo on-line: em busca do tempo real. In HOHFELTD, Antonio e BARBOSA, Marialva (orgs.). Jornalismo no século XXI: a cidadania. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2002.

ARNT, Héris. Do jornal impresso ao digital: novas funções comunicacionais. In HOHFELTD, Antonio e BARBOSA, Marialva (orgs.). Jornalismo no século XXI: a cidadania. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2002.

BARBIERI, M. R.; SICCA, N. A. L.; CARVALHO, C. P. de (org.). A construção do conhecimento: Uma experiência de parceria entre professores do ensino fundamental e médio da Rede Pública e a universidade. Ribeirão Preto: Holos, 2001.

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede – A era da informação: economia, sociedade e cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

FERRARI, Pollyana. Jornalismo Digital. São Paulo: Contexto. 2003

________, Pollyana. Hipertexto, hipermídia: as novas ferramentas da comunicação digital. São Paulo: Contexto,2007.

MILLER, J. D. Scientific literacy: a conceptual and empirical review, Daedalus[/sertitle], v.112, n. 2, p. 29-48, 1983.

ZAUITH, G. Jornal das Ciências: uma proposta de divulgação científica. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Natal, RN, 2008.